Simulações em planos de contingência: A ausência que pode custar muito à saúde
- Cátia Albuquerque
- 19 de mai.
- 4 min de leitura
Atualizado: 28 de mai.
Em muitas instituições de saúde no Brasil, os planos de contingência existem apenas no papel. São documentos exigidos por normas e auditorias, mas que, na prática, não são testados, revisados nem vivenciados pelas equipes.
Essa lacuna entre o planejamento e a execução pode gerar consequências graves, especialmente em situações de emergência real.
Planos de contingência não são meramente burocráticos: eles devem prever como a instituição reagirá diante de eventos críticos, como:
Falta de energia elétrica ou pane no gerador;
Falhas na rede de gases medicinais;
Indisponibilidade de equipamentos essenciais (monitores, ventiladores, raio-x);
Interrupção no abastecimento de medicamentos ou insumos críticos;
Colapso estrutural parcial (alagamentos, incêndios, desabamentos);
Aumento abrupto da demanda (como surtos epidêmicos);
Ausência ou escassez de profissionais;
Falta de sistema informatizado.
No entanto, o que se observa com frequência é a ausência de simulações práticas para testar esses planos.
Sem treinamento realista, as equipes ficam inseguras, descoordenadas e desinformadas sobre seus papéis em momentos decisivos. Essa falta de preparo operacional compromete a segurança do paciente, a continuidade da assistência e a imagem institucional.
📌 Por que realizar simulações é essencial?
Identifica falhas ocultas nos fluxos e protocolos;
Promove integração e comunicação intersetorial;
Aumenta a confiança e a autonomia das equipes em situações críticas;
Reduz o tempo de resposta em emergências reais;
Garante conformidade com as legislações e boas práticas nacionais e internacionais.
Mitiga as chances de eventos, incidentes e erros.
Simular é ensaiar para salvar.
Assim como bombeiros não aprendem apenas lendo, os profissionais da saúde precisam praticar os planos de resposta. Isso inclui evacuação, redirecionamento de pacientes, acionamento de equipes de emergência, realocação de recursos e comunicação com familiares e autoridades.
O problema é claro: sem simular, o plano pode falhar justamente quando for mais necessário. Na hora da emergência, não haverá tempo para ensaios ou improvisos e o que não foi testado dificilmente funcionará com precisão.
Exemplos reais de falhas evitáveis por falta de simulação:
Um hospital ficou sem oxigênio em uma UTI neonatal porque ninguém sabia onde estava a chave de acionamento do cilindro reserva.
Em uma pane elétrica noturna, a equipe não sabia ligar manualmente o gerador, e os pacientes entubados ficaram sem ventilação por minutos críticos.
Em um incêndio no almoxarifado, os profissionais evacuaram o andar errado por falta de sinalização e simulação prévia.
Durante a falta de um antibiótico essencial, não havia protocolo substitutivo definido, gerando atrasos e falhas terapêuticas.
Exemplos reais de como a simulação pode prevenir erros fatais no momento da utilização de planos de contingência nas instituições de saúde.
Fogo no Centro Cirúrgico – Grande hospital privado de Sâo Paulo
Simulação: Treinamento de evacuação de centro cirúrgico durante incêndio.
Erro identificado: A porta corta-fogo principal abria para o lado errado, atrasando a evacuação da sala com paciente anestesiado.
Correção: Reestruturação das rotas de fuga e redistribuição de extintores.
Impacto: Evitou uma tragédia real meses depois, quando houve princípio de incêndio em uma sala elétrica próxima.
Falta de energia e falha nos geradores – Hospital público no Rio de Janeiro
Simulação: Teste de pane elétrica total e acionamento do gerador.
Erro identificado: O gerador funcionava, mas não estava alimentando a UTI neonatal, por erro na configuração da chave de transferência.
Correção: Revisão de toda a rede elétrica de emergência e inclusão da UTI no circuito prioritário.
Impacto: Garantiu suporte vital a recém-nascidos em evento real de queda de energia semanas depois.
Plano de evacuação por desastre natural – Clínica em Recife (área de risco de enchentes)
Simulação: Enchente com evacuação do andar térreo.
Erro identificado: Elevadores travavam em andares inferiores e os macas não passavam pelas rampas de emergência.
Correção: Criação de salas de contenção e estoque extra nos andares superiores; adaptação da rampa.
Impacto: Em enchente de 2024, a evacuação foi feita com rapidez e sem vítimas.
Derramamento de produto químico na Central de Materiais
Simulação: Vazamento de ácido peracético.
Erro identificado: Falta de EPI adequado e desconhecimento do plano de isolamento da área.
Correção: Treinamento contínuo e sinalização de segurança; troca dos EPIs e reformulação do fluxo.
Impacto: Quando houve derramamento real meses depois, a equipe atuou com agilidade e segurança, evitando intoxicação.
Parada cardiorrespiratória no estacionamento – Hospital privado em Curitiba
Simulação: Atendimento de emergência fora da área assistencial.
Erro identificado: Demora de 7 minutos até que o desfibrilador chegasse.
Correção: Distribuição de DEA em áreas não clínicas e treinamento de porteiros e recepcionistas.
Impacto: Em evento real de PCR em visitante, o uso imediato do DEA salvou a vida do paciente antes da chegada da equipe médica.
Na CQ Consultoria, temos experiência em conduzir simulações assistidas, com cenários realistas e planos adaptados à realidade de cada instituição.
Trabalhamos para transformar planos engavetados em instrumentos vivos de gestão de risco, que fortalecem a resiliência organizacional e aumentam a capacidade de resposta segura e coordenada.
A simulação de planos de contingência transforma o teórico em prático. Ela permite:
Validar fluxos,
Identificar falhas ocultas,
Preparar equipes para decisões sob pressão.
"Uma instituição preparada não é a que tem um plano no papel — é a que sabe exatamente o que fazer quando tudo sai do controle"- Cátia Albuquerque

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