Evitar eventos adversos também é essencial na odontologia.
A saúde da boca está totalmente associada a saúde geral dos pacientes, envolvendo cuidados específicos e integrando o cirurgião dentista à assistência hospitalar.
Nos países de primeiro mundo, há uma evolução evidente na busca pela melhoria da assistência bucal.
A segurança do paciente se dá dentro das instituições hospitalares e os cirurgiões dentistas devem ter uma atuação predominantemente ambulatorial, a prestação de cuidados odontológicos é potencialmente propícia à ocorrência de eventos adversos, já que se trata de uma prática invasiva envolvendo contato íntimo e rotineiro com secreções como saliva e sangue, depende totalmente da habilidade do profissional e está constantemente sujeita a possíveis emergências.
Nas medições da probabilidade e criticidade de danos na assistência odontológica, diversos estudos apontaram evidências como:
Complicações por anestesia local e sedação, lesões produzidas em língua e lábios, perda de dentes por exodontia trocada, lesões oculares e até mesmo óbitos.
Incidentes relacionados a alergias, infecções, atraso ou falha de diagnóstico e falha no procedimento.
Já na investigação da ação preventiva dos eventos adversos, houve divergência entre os estudos, o que fez com que alguns apontassem que apenas 39% dos eventos eram evitáveis e outros acreditassem que até 98% dos incidentes eram evitáveis.
Entre as causas dos eventos adversos, foram apontados:
Erros de diagnóstico e planejamento
Comunicação ineficaz (falta de clareza e transparência)
Falha na execução de procedimentos
Baixa adesão a protocolos validados
Anamnese insuficiente
Importante: erros relacionados à medicamentos também ocorrem no contexto odontológico e alguns estudos listados apontam a prescrição medicamentosa como uma das principais causas para ocorrência de eventos adversos. Até mesmo o açúcar presente em alguns medicamentos pode ser um fator coadjuvante da cárie, principalmente naqueles pacientes com dificuldade de deglutição.
Prática Cirúrgica:
Na prática cirúrgica, por ser considerado um procedimento invasivo, é apontado como pilar da segurança, a marcação do sítio cirúrgico para redução de erros como exodontia trocada.
Como também há a necessidade na melhoria da segurança anestésica através do monitoramento adequado e treinamento dos envolvidos, além de check lists eficazes para otimização dos processos de trabalho.
No âmbito dos medicamentos, entre as soluções destacadas está a necessidade de aumentar o conhecimento dos cirurgiões dentistas sobre os medicamentos prescritos e as suas interações, sendo importante que os profissionais sejam orientados quanto ao uso de antagonistas farmacológicos para ajudar a mitigar emergências induzidas por medicamentos.
Assim como nos hospitais a notificação de incidentes deve fazer parte dos processos para melhoria da segurança através da ferramenta de notificações de eventos e a Politica de Segurança do Paciente bem definida e disseminada, além de ser uma fonte de aprendizagem organizacional, servindo de dados necessários para a elaboração de estratégias e intervenções de melhoria.
A segurança do paciente dentro de uma clínica odontológica é uma forma estratégica de minimizar riscos de lesões, traumas, infecções ou alguma doença transmissível.
Clínicas odontológicas:
Segurança do Paciente é um tema extremamente importante na odontologia. Enquanto alguns procedimentos são exigidos pelas próprias legislações, outros podem ser adaptados por meio da adoção de protocolos e boas práticas seguras.
Faça uma classificação da clínica para facilitar os cuidados e direcionar as ações. Existem, por exemplo, as áreas não críticas, que não são destinadas ao atendimento, como área administrativa e copa, as semicríticas são aquelas onde pode haver contato com patógenos, com possibilidade de contaminação, como recepção e CME e as áreas críticas se referem aos lugares que têm maior contato com as secreções que podem causar problemas, como o centro cirúrgico e a própria sala de atendimento/procedimento odontológico.
Algumas ações essenciais para a implantação da cultura se segurança do paciente:
- Higienização das mãos
- Higienização/desinfecção dos instrumentais
- Vacinações vigentes
- Equipamentos de proteção individual
- Protocolos ou documentos norteadores embasados cientificamente
- Identificar, detectar, notificar e evitar eventos adversos.
UTI/Internações crônicas:
Pacientes internados em unidades de terapia intensiva podem ter a saúde oral comprometida se o hospital não contar com uma equipe de dentistas para tratar o paciente. A boca, devido à sua temperatura e umidade, é um ambiente propício a proliferação de bactérias e fungos e, ter um profissional dentista na UTI ajuda no controle de infecções.
Segundo pesquisa realizada no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP), USP, e publicado pela Society for Healhcare Epidemiology of America (SHEA), as chances de o paciente desenvolver infecções no sistema respiratório cai em torno de 56%. Esses dados compunham uma pesquisa envolvendo 254 pacientes, metade recebeu apenas os cuidados básicos, enquanto a outra porção teve tratamento oral completo. O grupo que recebeu mais atenção, foi o que obteve os melhores resultados no controle de infecções.
O dentista é de extrema importância na UTI, pois ajuda no controle de infecções, ao aplicar as melhores práticas para garantir a segurança do paciente e a boa higienização dos dentes.
As boas práticas definem que diariamente deve-se avaliar a situação oral do paciente, para, assim, notar rapidamente quaisquer alterações que podem causar eventos evitáveis.
A formação de placa pode prejudicar as funções respiratórias do paciente, então, é recomendável a higiene a cada oito ou doze horas.
Usar substâncias antimicrobianas, como por exemplo a clorexidina, para combater micro organismos prejudiciais. É comum também que os profissionais apliquem soluções hidratantes periodicamente, para garantir a integridade da mucosa bucal.
Secreções que se acumulam na região orofaríngea devem ser aspiradas regularmente, pois podem conter uma concentração alta de agentes patogênicos.
Esses procedimentos devem ser realizados pelos profissionais com expertise e capacitação em odontologia hospitalar, para mitigar os riscos de contaminações para o paciente e o próprio profissional.
Há mais de cento e cinquenta anos, a higiene das mãos é a mais importante medida para o controle das infecções hospitalares, mas não podemos esquecer a outra fonte de bactérias endógenas e exógenas localizada no corpo humano: a boca.
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